sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O dia em que morri

      Era uma cerimônia bonita... Sim, bonita apesar das lágrimas.
      Foi escolhido o melhor lugar (como nunca havia sido feito), as melhores flores, os melhores trajes (desta vez, selecionados com carinho), a melhor celebração e, por fim, as piores e mais dissimuladas faces de tristeza que puderam comparecer.
     Nunca fora belo, mas agora era olhado com afeto; foi negligenciado, e só agora os abraços calorosos, pelos quais um dia suplicou, foram concedidos; nunca fora admirado (ou nunca tomou conhecimento de tal ocorrido), mas agora se via o quão valioso foi; nunca fora amado (apesar de doar seu próprio amor ávida, intensa e verdadeiramente), mas agora clamava-se para que voltasse a respirar... Foi-se, morreu.
    Chorava-se como se pudesse haver punição, caso não o fizesse. Lamentava-se o tempo perdido que puderam ter ao menos ligado. Auto julgavam-se, pela tamanha inconseqüência e crueldade com que o trataram, considerando válido, somente agora, seus apelos por igualdade e respeito.
      O menino viveu... Riu até não agüentar, correndo o risco de parecer idiota; chorou – sozinho – até a última lágrima, sendo considerado fraco por si mesmo; amou imensamente alguém e se machucou; lutou contra todos, mas, que pena, no fim desistiu de tentar mudar o mundo e simplesmente morreu.
     Não procure saber de sua vida, pois esta morreu junto a ele; ninguém nunca andará pelos campos secos que foram o cenário imaginário de sua estada na vida e jamais alguém entenderá o MEU desejo de “viver” um último dia. O dia em que morri.

Passos de Água

    Sabe aqueles passos de água do último verão? Acredito que não saiba, pois eles sempre ficavam para trás de você, mas eu... Eu sim, os conheço bem.
    Seguia-os como se fossem o único caminho, a única maneira; e tão bela era a forma que seus pés formavam no chão, como podia não me apaixonar?
    De cabeça baixa, permaneci durante todo este tempo; meu mundo era o rastro que você deixava e mesmo assim, mal pude perceber – ou não quis perceber – seus tombos, seus desvios. P-E-R-D-I-D-O. Perdido em um mundo que não vi passar.
    Esqueci que todas as pegadas de água evaporam e não foi diferente com as suas; nada é permanente como se espera, por isso estou voltando para o meu caminho inicial, o certo, e, meu querido amor, quando resolver olhar para trás, verá agora as minhas pegadas, mas não perca seu tempo seguindo-as, pois um dia elas sumirão também e eu estarei longe; para sempre.

Sem Título, Sem Rótulo

…e ninguém conseguiu compreender; sarcástico e direto, frio e carinhoso, louco e quase normal, destemido e cheio de medos... Talvez estas máscaras impeçam até a mim mesmo de ver minha face verdadeira através do espelho.
    Adoro este meu jeito cruel de ser, sem piedade, mesquinho e debochado. Morte ao sentimentalismo! NÃO amo, NÃO choro, vivo? Vivo para mim e só... Prefiro solidão a seu olhar ridículo de pena.
    Por favor, assuma este caráter sórdido que eu sei que você tem; maltrate-me e ria da minha cara de palhaço ao dizer que ainda te amo; só não me peça para ser eu mesmo agora. Mostre-se tão cruel quanto “eu” e dispa, de vez, a sua máscara.
    E de pensar que eu prometi te esperar o tempo que fosse preciso, me acho um pouco mais patético. Amarei a mim ou a mim mesmo, definitivamente! Então suma, pois agora estou bem; muito bem, obrigado.

Verossímil de Mentira

    Mais um dia se passou; mais um dia minha mente permaneceu atormentada por uma antiga mágoa. Ver a felicidade alheia a mim tornou-se uma tortura; olhares apaixonados, beijos, amor... Que pena, mas estas são realidades distantes, irreais na minha dimensão.
    Às vezes imagino-me só, inatingível na perspectiva do restante das pessoas, em um mundo preto e branco onde nada existe, e que, mesmo vazio, o amor não encontra lugar para habitar. Nunca aprendi o que devia ser feito para mudar, admito que tentaram ensinar-me, mas não adiantou... Foram apenas mais conselhos para mim, que sou um ser incompreensível para todos e, às vezes, até para mim mesmo; seria eu um monstro? Talvez, mas um monstro que eu enxergo lindo, afinal, sou criação de mim mesmo.
    Busquei em todos os lugares aquele que me completaria; clichê, antiquado, antigo? Sim, talvez, mas sempre achei que não estaria completo sozinho; nunca fui um garoto convencional, por que tive que ser assim, tão “comunzinho” para amar?
    Tentei colorir à força estas paredes mortas, mas a chuva sempre lavou a tinta barata que eu usei. Cansei de mentir para mim mesmo, tentar tocar o que jamais alcancei me parece agora um pouco infantil; mas enfim, querido confidente, devo parar agora ou acabarei novamente no chão, quebrado, manchado com a minha tinta de mentira.